"Antes a malta tinha de estar agarrada uns aos outros porque tinha de ser, eram infelizes mas unidos. Ou juntinhos para sempre, a qualquer custo. Alguns eram felizes, sim. Mas poucos, e se fossem nem diziam porque ficava mal. Não havia televisão, nem playstation, nem nada disso, fazia-se malha e ouvia-se telefonia. Os filhos aborreciam-se que nem uns carapaus e embirravam com as irmãs e diziam que elas tinham namorados na escola ou na catequese. Depois apareceu o divórcio e as pessoas ficaram viciadas nisso, só queriam era divórcios. Mas pelo menos faziam o que queriam fazer. Agora é uma rebaldaria pegada, faz-se o que se quer, como se quer, com quem se quer, enfim, somos livres e temos medo de tudo, de não gostarem de nós, sobretudo. Mas as famílias são grandes, falam mais, é divertido ter Natais com pais e mães e padrastos, ter nove avós em vez de só quatro. Os amigos são irmãos, os irmãos são irmãos mas mais chatos, como a Possidónia que eu gosto mas que às vezes só me apetece assá-la no forno, outros dias quero que passe o fim de semana comigo porque ninguém faz fondue de queijo como ela.
Olha é isso. Sei lá se somos mais felizes. Pelo menos se tivermos a sorte de ter um "felizes para sempre" será de certeza porque é verdade."